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Comportamento alimentar infantil: como ajudar meu filho a comer bem?


“Meu filho não come nada saudável. É uma luta. Não sei mais o que fazer”.

Frases como estas costumam permear as conversas que tenho com muitos pais aqui no consultório. Infelizmente, esta é uma realidade que ainda afeta milhares de famílias no nosso país: a dificuldade em desenvolver bons hábitos alimentares nas crianças.

Por isso me propus hoje a trazer algumas dicas eficazes, e para além da medicina, que podem ajudam de verdade vocês, pais, que querem auxiliar os filhos a desenvolverem bons hábitos alimentares - lembrando que a alimentação é um dos fatores que contribui para o aparecimento de doenças crônico-degenerativas, aquelas doenças que progressivamente deterioram a saúde e são as que mais matam no mundo.

Antes de mais nada é preciso saber que os pais são os primeiros educadores nutricionais. É em casa, com a família, que toda criança desenvolve as bases do comportamento alimentar de sua vida inteira e que condicionam os seus hábitos.

Ninguém nasce sabendo a se alimentar sozinho. Da mesma maneira que os pais ensinam a andar corretamente, a falar corretamente e a se comportar corretamente, precisam também ensinar seus filhos a se alimentarem corretamente.

Por si só a criança tenderá sempre ao que lhe proporciona maior prazer: sozinha ela pode viver anos a base de doces e guloseimas, primeiro porque a sensibilidade ao doce é inata antes mesmo do nascimento e segundo porque ela não tem capacidade de compreender a necessidade de uma alimentação saudável. Perguntas como “você não sabe que tem que comer legumes?” não vão funcionar nunca - simplesmente porque crianças não têm condição de respondê-la. Ela não sabe, mesmo.

Segundo a literatura da medicina, ou seja, o consenso geral em pesquisas realizadas neste campo, existem três fatores condicionantes para o desenvolvimento do padrão alimentar de uma criança:

1 - Percepção sensória do alimento: o sabor.

2 - Consequências pós-ingestas: a ingestão repetida dos alimentos somada ao sabor e a reação afetiva daquele contexto geram uma satisfação fisiológica que é chamada de consequência pós-ingesta;

3 - Contexto social: comer é um ato social, um momento de convivência, afeto, socialização, criação de memórias que precisa ser levado em consideração.

Isto equivale a dizer que nós precisamos pensar na alimentação da maneira como ela é: complexa. Ninguém come pura e simplesmente para saciar uma necessidade fisiológica ou só para criar laços de afeto ou só para sentir o gosto da comida: são todos estes elementos combinados.

E é partindo deles que os pais devem pensar quando vão ajudar as crianças na alimentação, desde a sua introdução.

Quando uma introdução alimentar é bem feita, com alimentos saudáveis, balanceados e num ambiente estável, de estímulo, carinho e afeto, tudo flui. Ainda que o bebê recuse alguns alimentos, ele aceita outros e, assim, com constância e afeto, vai se adaptando

a esta nova etapa.

Mas, o que acontece com certa recorrência é que os pais desistem muito rapidamente quando o bebê recuse algo, substituindo por aquilo que ela aceita de bom grado como bolachas, farinhas, iogurtes industrializados, todo tipo de alimento que agrada ao paladar e passa pela etapa da percepção sensória, mas que não contempla as outras duas: boas consequências fisiológicas e um contexto adequado. É aqui que surgem muitos casos de neofobia que é quando a criança tem medo de experimentar novos alimentos e só come determinados tipos muito limitados. “Meu filho só come arroz e toma leite, só, não aceita mais nada”. E por aí vai...

Por outro lado, há uma parcela significativa de pais (segundo pesquisas de campo) que insistem para que a criança coma o quanto eles acham que ela deve comer, e não o que realmente a satisfaz. Este é um dos grandes desencadeadores de compulsão alimentar e obesidade infantil - quando a criança se acostuma a comer mais do que precisa.

É por isto que o equilíbrio é a chave neste processo. Com paciência e constância as crianças se entrozarão com o ambiente familiar e progressivamente vão adquirir os hábitos da família.

Pensando em tudo isso quero dar cinco dicas para o momento da alimentação que serve para todas as famílias, independentemente da rotina específica de cada uma.

1 - Inclua um ritual na horas das refeições: é muito decisivo o ambiente no qual a criança é inserida na hora de alimentar-se. Ela responderá muito melhor se a mesa estiver posta, com acessórios simétricos, lugares reservados, comida sobre a mesa e todos sentados para comerem. Não há comparação de uma criança que se senta com os familiares numa mesa bem colocada e com a comida apresentada, do que outra que pega um prato feito e senta no sofá, em frente a TV. Hábitos são formados a partir da repetição de determinadas atividades. Insira um bom ritual na hora das refeições por pelo menos três meses e veja o resultado;

2 - Preveja situações de conflito e aja antes: quando está com fome a criança chora. Ela não consegue controlá-la e por isso a sensação de saciedade precisa acontecer brevemente. Um importante pesquisador na área de preferências alimentares condicionadas, Capaldi, sugere, inclusive, que os legumes e verduras sejam oferecidos por último nas refeições para que a criança os associe à sensação de saciedade - se ela estiver com muita fome e comer um pedaço de brócolis a fome não vai passar e ela pode associar aquele incômodo ao legume;

3 - Estabeleça regras antes das refeições começarem: a previsibilidade é um caminho muito certeiro com crianças. Quando elas sabem como as coisas vão acontecer, reagem melhor. Então dê comandos simples e claros como “só vamos servir a sobremesa depois que todos terminarem de comer” ou “ninguém pode se levantar antes de terminar sua refeição”. Com o tempo a criança passará a internalizar essas regras e cumpri-las naturalmente, sem precisar de nenhuma ordem;

4 - Insista para que estejam preparados para a refeição: há pais que deixam a criança sentar-se à mesa sem roupa, por exemplo, ou a servem comida na boca mesmo depois de grandes. A autonomia é fundamental para que ainda na infância elas possam sentir-se seguras. Não faça pelo seu filho aquilo que você pode ajudá-lo a fazer sozinho;

5 - Tenha bons hábitos alimentares: você é o espelho da casa. Seu filho vai olhar para o que você olha. Se você come fora de horário, de qualquer jeito e “qualquer coisa” a tendência será a mesma para ele. É muito mais tranquilo convencer seu filho a comer beterraba e chuchu se você também come estes alimentos, do que oferecê-los a ele enquanto você ingere uma lasanha congelada, por exemplo.

Com boas estratégias, determinação, estudo e constância, o comportamento alimentar do seu filho certamente será dos melhores. Não desista tão facilmente. Lembre-se que alimentação saudável é muito importante para saúde física, disposição e equilíbrio emocional.

Conte comigo para o que precisar nesta etapa. Estou aqui para ajudar você a oferecer o melhor aos seus filhos e à sua família.

Até breve!

Fonte:

http://www.cookie.com.br/site/wp-content/uploads/2014/07/Desenvolvimento-do-comportamento-alimentar-infantil.pdf

Dr. Mário Lhano - Endocrinologista e Metabologista CRM 101515, atende há mais de 10 anos e é especialista em dieta vegetariana.

Instagram: @dr.mariolhano

#Introduçãoalimentar #obesidadeinfantil #infância

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